segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Chegada na Polinésia Francesa, Nuku Hiva


Após três meses bem vividos na Polinésia Francesa, tivemos de deixá-la, nosso visto expirou, lamentei, mas ao mesmo tempo foi uma forma de nos impulsionar a seguir viagem, senão certamente íamos ficando e ficando...
No dia 21 de abril de 2010 ancoramos em Nuku Hiva, arquipélago das Marquesas, depois de 22 dias direto no mar sem avistar terra, 3065 milhas navegadas no Pacífico, pisamos em terra!

“O céu está sorrindo novamente, um excesso de ar paira sobre tudo. Essa estranha e longínqua terra me pertence de novo, o estrangeiro tornou-se nativo. Debaixo da árvore que fica além do lago será hoje o meu lugar.” (Hermann Hesse)

E logo que chegamos, a decisão de desembarcar do Fraternidade foi mantida, depois de 95 dias, 7728 milhas náuticas  a bordo dessa grande barca, chegou a hora de abandoná-la, não faço muito o tipo de quem abandona o barco não, mas esse foi inevitável, já tinha aprendido as maiores lições que poderia ter ali, não, e não foram os aprendizados náuticos os mais importantes, foram os diferentes aspectos da natureza humana, a arte de conviver, a reafirmação de meus valores, o que não quero ser quando crescer e sobretudo a importância de cultivar o amor no coração, dessa forma é possível se relacionar bem com todas as facetas humanas, mais a maior lição que todos precisavam ter mesmo é conhecer o sentimento de fraternidade, aprender a ser mais fraterno, a ter compaixão com o próximo, fazer o bem sem olhar a quem. É, posso dizer que cheguei mais forte em Nuku Hiva.

Passei a primeira semana na casa de uma típica família polinésia, quanta abundância, abundância de sorrisos, cores e flores, frutas e odores, pura alegria, férias para o espírito depois de tanta (o)pressão vivida. Foi um bom momento para colocar as idéias no lugar, fazer alguns planos sempre com a possibilidade de desfazê-los, habituar os ouvidos com o francês e marquesiano, se conectar com a fluidez da vida e simplesmente vivê-la. Na seqüência tudo foi fluindo, conhecemos pessoas lindas, vários cruzeiristas e pessoas locais, ficamos hospedados num catamarã com capitão francês, velejamos pela ilha com outros barcos. Conhecemos Hakaui, lugar forte, para raros, para poucos, esse tesouro está guardado, que os guerreiros ancestrais continuem o guardando, com suas imponentes rochas... intensas vivências nessa terra.
Aprendi a fazer colar de flores, coroa e óleo, que delícia, um pouco da alquimia das mulheres marquesianas, utilizei nove plantas, sou incapaz de dizer o nome de todas as plantas, na hora só estava ocupada em vivenciar aquele momento a idéia de pegar o caderninho anotar tudo, perguntar tudo, investigar foi deixada de lado, num lindo dia de Sol fui buscar as plantas no quintal de mami Oscarina, gardênia, tiaré, jasmim, yang yang, côco, hortelã e outras fizeram parte da poção, muito legal o trabalho de ir colher as plantas, tirar o leite de côco, misturá-las com a mão, colocar no Sol, tirar do sereno, colocar no Sol, tirar do sereno, colocar de novo no Sol e depois tirar do sereno, e finalmente o paku, óleo bastante apreciado e utilizado por aqui. Aprendi também a retirar fibra de côco, fazer colar de sementes e compartilhar tudo de bom que eu tivesse pra oferecer, saber dar, saber receber e saber retribuir, nas marquesas recebi muito.
Vivi dias memoráveis, conhecemos vários paipais, sítios arqueológicos com vestígios de estruturas de casas construidas de pedras pelos antepassados desse povo, rodeados de vegetação específica, grandes árvores, densas, com folhagem verde musgos que mais pareciam as famílias que ali viveram, como se os espíritos tivessem se encantado em árvores, muita fruta pão e mamão ao redor, e tapetes de flores, tive aulas de surf, conheci pessoas lindas com histórias de vida incríveis, grandes conexões, grandes exemplos.
Os polinésios nos olham no fundo dos olhos, não é preciso saber falar francês e nem sua língua nativa, leêm nossos olhos, quando você pensa que precisa de alguma coisa, já chega alguém pra te dar o que precisa, muita vibe...

Depois de cinco semanas nas marquesas, já nativos, todos nos conheciam e sabiam que éramos brasileiros, participamos de muitos jantares e festas, me senti acolhida pelo povo de Nuku Hiva, mas chegou a hora de partir. Seguimos viagem no Margot, participamos do delivery desse catamarã até o Tahiti, mais pela experiência, o capitão tinha mais de 50 anos de vida no mar, durou uma semana, não paramos nas Tuamotus, o que nos obriga a voltar pra Polinésia para conhecer esse arquipélago... a viagem foi bem tranquila, velejar com os alísios não traz muitas surpresas.

Um comentário:

Débora disse...

Adorei o texto! Estou curtindo as lindas fotos e as impressões da viagem. Bons ventos minha Linda!

Bjus