segunda-feira, 29 de março de 2010

A caminho de Galápagos

Os dois primeiros dias no mar foram duros, muiiiiito calor e calmaria, me deu uma moleza, vontade de só ficar deitada.. no terceiro dia os céus mandou água, que diversão foi a chuva, todos sairam para tomar banho, virou festa, estávamos completando dois meses de viagem, iemanjá também mandou seu presente, nos deu um dourado lindo e delicioso... mas o vento ainda não tinha chegado, fazíamos várias manobras, regulagem de vela para tentar aproveitar o máximo, numa dessas acabei machucando o braço, quando estávamos colocando a geniker, estava segurando a vela e controlando seu desenrolar para não cair n'água, quando acabei ficando com o braço imprensado entre o cabo de aço do guarda mancebo e a vela esmagando meu braço, minha pressão baixou na hora, mas por bem não quebrei nada, foi apenas uma luxação, o braço inchou e ficou roxo, mesmo com dor conseguia movimentá-lo.... Estava mesmo difícil um bom vento nesse trecho, motoramos bastante,  e também recorremos a geniker em vários momentos, vento rondando, sem uma direção constante... Aleixo resolveu seguir para o Sul e aproveitar a corrente de Rumbold, foi bom que o vento também começou a se fazer presente, aumentou a velocidade para 19 nós... mas não durou por muito tempo. Deu para sentir o frio trazido pela corrente, alguns dias nublados, e a chuva se fazendo presente quase todos os dias, uma maravilha!! Foram apenas oito dias de travessia, mas bem movimentados, fizemos estudo de francês, estamos nos preparando para a French Polinesia, alongamento, quando me animava puxava uns pesinhos... leitura, leitura, estudei fotografia, ainda não tinha me dedicado de verdade a aprender a mexer na câmera, li "Um herói do nosso tempo" de Liermontov, fiquei apaixonada, literatura russa, aborda aspectos psicológicos do ser humano,  o herói é um verdadeiro anti-herói se coloca de forma crua, sem vaidades, expõe seu ridículo e o da sociedade... muito bom, quero até o fim dessa viagem ler Guerra e Paz, comecei a ler "O doutor Jivaro"...
Começamos a mirar Isla San Cristóbal com o nascer do Sol!!



Ciudad de Panamá

Passados quatro dias em Taboga, Aleixo resolveu ancorar na Ciudad de Panamá, lá estávamos muito isolados, não dava para agilizar abastecimento de água, diesel, fedex, internet, mercado etc. Com as informações que o sul-africano deu Aleixo resolveu ficar ancorado na Playita de Amador, uma marina livre. Muito bem situado o lugar, não andei muito pela Ciudad do Panamá, minha vida ali se resumiu ao shopping (para usar internet), e a orla da marina para correr, a tripulação do Fraternidade estava no gás para se exercitar, é um lugar muito agradável, a orla dá num parque todo arborizado, uma delícia para correr... curtimos também uma baladinha panamenha, foi massa, muito animada!!! Depois de compras, roupa lavada, barco abastecido, programas enviados, recebimento do alternador etc. partimos rumo a Galápagos!!!

domingo, 28 de março de 2010

Isla Taboga

Depois do susto da corrente arrastada e o encantamento de fundear do outro lado da ilha, seguimos na missão de descobrir um caminho até a vila, ir pelo mar com o bote era um pouco perigoso, saindo da parte abrigada tinha fortes ventos e ondas... resolvemos encarar a encosta a nossa frente, uma mistura de costão rochoso, com montanha argilosa, ficamos do barco com o binóculo tentando encontrar o melhor caminho para subir, sem as rochas íngremes e vegetação muito fechada, observamos que tinha uma estrada que chegava numa espécie de lixão, parece que é onde destinam o lixo da ilha e ateam fogo. Resolvemos subir por ali já que dava acesso a estrada, fui eu e mais três fazer esse reconhecimento, foi uma subida média, tiveram três passagens mais difícies, que tinha que se agarrar nas fendas da rocha, e depois muito mato seco, lixos pela encosta, mas chegamos de boa, depois de 1h de escalada, logo chegamos na estrada e em 20 min já estávamos na vila. Um charme essa ilha, as casas coloridinhas, quintais floridos, a vista pro mar maravilhosa, uma delícia... passamos o dia na vila, foi bem divertido, conhecemos alguns americanos, tomamos conta de um restaurante/ bar, até aula de dança fizemos por lá... caminhamos por outra montanha buscando um novo caminho até o barco mas não deu certo, víamos o barco mas não tinha como descer, mas valeu pela vista, linda... chegamos junto com o pôr-do-sol!! Espetáculo, mais um banho no pacífico, e moqueca de budião, os meninos que ficaram no barco pescaram!!! No dia seguinte Aleixo resolveu que também subiria a costa, queria ir até a cidade, armamos uma missão, Jeff que tem experiência em escalada, levou corda, deu instruções e todo suporte, subimos por outro caminho, foi mais rápido, porém ainda mais íngreme, mas com a corda deu tudo certo, Aleixo ficou todo satisfeito, cheio de disposição, foi massa!! Na vila conhecemos um cigano sul africano dono de uma veleria, nos deu várias informações, ele vive há apenas uns meses ali em Taboga e já pensa em partir, mas conhece um tanto de história dessa terra, foi um lugar estratégico durante o processo de colonização, tem a segunda igreja mais antiga da América, construída pelos espanhóis... tinha um porto bem movimentado, era como a segunda capital do Panamá. Hoje é uma vila tranquila, destino turístico de norte americanos... muito bonita, água cristalina.. Os dias aqui se resumiram em escalar até a vila, andar de caiaque, nadar no Pacífico, comer ostra e peixes frescos, admirar o pôr-do-sol e as estrelas, e jogo de buraco nas noites... foi uma delícia, tranquilidade entre os tripulantes do Fraternidade e a natureza!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Chegada no Pacífico

Após a travessia do canal (+- 40 milhas) passamos por debaixo da "Ponte das Américas" e já estávamos no Pacífico, a Ciudad de Panamá era logo adiante, mas recebemos a notícia de que a marina estava lotada e Aleixo resolveu seguir para Taboga uma ilha quase em frente, umas 10 milhas de distância. Chegamos fundeamos e Aleixo foi em terra com alguns fazer o reconhecimento do lugar, saber o que tinha disponível, quando voltou percebeu que a âncora estava sendo arrastada e já estávamos emcima de um atuneiro, foi aquele alvoroço liga a máquina, levanta âncora... correria.. Aleixo pensou até em seguir direto pra Galápagos, já que ali em Taboga a tarde tem fortes ventos que arrastam os barcos, não tinha um lugar muito seguro para fundearmos, mas ainda tínhamos coisas para resolver na derradeira cidade grande até a travessia do pacífico, vamos ficar pelo menos uns 90 dias até uma cidade com grande estrutura, precisávamos encher o tanque com água doce, diesel, comprar provisões etc.. Mas depois de passado o susto resolveu se abrigar atrás da ilha, e foi o melhor lugar em que fundeamos até agora, era só a gente e a natureza, Taboga é uma ilha pequena, com apenas uma vila, do outro lado tem apenas vegetação e costão rochoso, depois que jogamos âncora fui tomar o banho de batismo no Pacífico, maravilhoso, depois de velejar pela costa brasileira, Mar do Caribe, chegar no Pacífico, muita emoção, tive a sensação que agora a viagem esta começando pra valer!!! Assistimos a um lindo pôr-do-sol, e a refeição de comemoração foi lagosta!!!

Canal do Panamá


A estadia em Colón foi apenas para aguardar a travessia do Canal, durou sete dias, depois de toda a burocracia resolvida no dia 03/ 03 iniciamos a travessia, já no fim da tarde o prático embarcou no Fraternidade para nos guiar, e no rastro de um grande navio cargueiro adentramos o canal, tinha também outros 2 veleiros no rastro do navio, entramos na primeira eclusa e o nível da água começou a subir e então seguimos até a próxima eclusa, espera-se o nível da água subir e segue, passamos por três eclusas até o Gatun Lake, chegamos já à noite, foi um pouco tensa a travessia pois o prático estava um tanto impaciente, mas na realidade é tudo bem simples, mas é necessário atenção, enquanto o nível d’água de cada eclusa subia tínhamos que atracar próximo do paredão, a única manobra que tinha, para isso era necessário duas pessoas na proa e dois na popa para lançar o cabo ao funcionário do canal que ficava emcima do paredão, e depois pegar o cabo de volta, os meninos ficaram nessa função, eu fiquei auxiliando Paulo no registro, enquanto ele filmava tudo, eu fotografava. Passamos a noite no Gatun Lake atracados numa bóia gigante, a contra bordo de um outro veleiro, de canadenses, todos bem simpáticos tinha também uma equatoriana junto, muito animada, conversamos um pouco e logo fui dormir, pois amanhã cedo a travessia continua. Um outro prático embarcou para seguir o canal, antes de chegarmos nas outras eclusas. Atravessamos o lago, muito me lembrou o Amazonas, ouvi um som de macaco que parecia os guariba, muito provável que seja, a mata é muito bonita, o mais impressionante era a quantidade de paud’arco, todos floridos, coisa linda!! Mas logo chegamos nas eclusas o que quebrou todo o encanto, uma grande obra americana recortando a terra, é mesmo de impressionar o que o homem é capaz, tudo pelo progresso… já faz tempo que os americanos passaram a administração do canal para o Panamá, mas as consequências restam até hoje, é um lugar muito desigual, um país onde corre muito dinheiro mas o povo vive na miséria, Colón retrata bem isso, a zona livre com as maiores marcas do mundo e do lado de fora ruas que parecem aquelas bibocas, aspecto de sujo, fios velhos dependurados, um clima de terror causado pelo tráfico, todos nos alertavam para ter cuidado ao andar nas ruas.. mesmo assim me senti bem, não vi nada que me causasse tensão, gostei do povo, achei alegre, tem uma malandragem e mesmo as ruas com aspecto de sujo, estado precário, tinha um colorido, os ônibus parecem obra de arte, são aqueles bem antigos, coloridões… e também andei pela feira tudo muito colorido… comi muito patacones!!

quarta-feira, 10 de março de 2010

mais

durante a travessia li alguns livros, O Velho e o Mar, quanta humildade, linda demonstração de humildade e determinação. A Expedição de Shackleton, quanta determinação tb, é massa essas leituras não só pra quem esta no mar, não é a toa que grandes velejadores dão palestras para empresários, empreendedores... mas o melhor, que mais me encantou é O Lobo da Estepe, quero ler todos os livros de Herman Hesse, amei, trata do ser humano, aliás o ser humano tem sido meu foco nessa viagem, a começar por mim, os tripulantes do Fraternidade, tem sido mesmo um grande aprendizado a convivência em alto mar... o mar potencializa tudo... e os nativos de onde passar...
em Colón tem os Kuna, povo muito bonito, com vestimenta muito linda e colorida, uma mistura de indianos com andinos, tecidos muito coloridos, com grafismos geométricos, as mulheres com braços e pernas ornadas com acessórios de miçangas e brincos de ouro nas orelhas e nariz, como as indianas, muitas usam cabelos curtos, são lindas.. mas não conheci muito, saí bem pouco em Colón, aproveitei para me dedicar a um trabalho inacabado que preciso enviar pro Brasil. Ficamos oito dias em Colón, esperando o momento de atravessar o canal, o tráfego de barcos é intenso, navios do mundo inteiro, mesmo fundeados no porto, fizemos amigos nos veleiros vizinhos, teve até uma festinha a bordo, os americanos levaram violão e violino, Paulo tocou gaita e pandeiro, eu improvisei um chocalho de arroz... foi massa..
Em Colón é onde fica a Zona Livre, um perigo para os consumistas, pois é de espantar os preços, tudo muito barato, dá vontade de comprar até o que não precisa, eu comprei apenas um tênis para corrida, vim viajar sem nenhum sapato fechado, apenas um chinelo e sandália para caminhada, acho que o tênis foi boa aquisição, um nike por 30,00U$...
galera ainda não consegui atualizar até o presente, estou na cidade do Panamá, ainda falta contar da travessia das eclusas no canal, da ilha Taboga, e dessa city, nos próximos dias volto por aqui, agora tenho que voltar pro Fraternidade...
Até mais!!!

Até o Presente

Já faz quase dois meses que zarpamos de Salvador e muita água já rolou... éramos 12 tripulantes, agora somos sete, já deixamos o Atlântico, mar do Caribe e hoje estamos no Pacífico. De Grenada cruzamos o mar do Caribe até Cólon, cidade portuária do Panamá, lá aguardamos até atravessar o canal. A travessia durou oito dias, diferente do que foi Natal-Grenada, essa travessia foi bem tranqüila, muito silêncio, contemplação, estudo de si... começamos com bons ventos, no rumo, média de 20 nós.. vento Leste/ Nordeste, depois o vento começou a mudar pra Sueste, e dar jaibe se tornou uma constante, todos os dias mudança de bordo, foi massa pra aprender, o rizo também, todos os dias no final da tarde, as manobras aconteciam sempre nos horários de meu novo turno de 6h-9h e 18h-21h, ótimo horário, o turno era sempre movimentado, e parecia que o dia rendia, já que podia dormir a noite inteira.... mas de repente desligaram o vento, parou, nada de vento nem pra outro rumo, o mar ficou liso como um tapete, levantamos a genikker (o balão assimétrico) e não funcionou ele só ficou batendo, fomos curtindo a calmaria, estava achando ótimo, mas o comandante tinha pressa de chegar no Panamá e resolveu fazer o trecho final no motor. Mas foi massa porque com a calmaria a cavala e o atum morderam a isca, a cavala era tão grande que durou três dias, e o atum nos rendeu boa moqueca... li muito nessa travessia, foi massa. Os astros, sempre os astros, garantiram os espetáculos...