quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Polinésia Francesa, Huahine - Bora Bora


Logo estávamos em Huahine, dizem que antigamente lá era uma ilha habitada apenas por mulheres e Raiatea, que fica bem a frente era habitada pelos guerreiros maori... Huahine siginifica o sexo da mulher, é uma ilha que exala suavidade, beleza, é muito linda, outro clima, pedalamos por toda a ilha numa bike dupla, muito divertido, muito lindo, vários trechos sem casas, apenas vegetação, muitas flores, passamos uma noite numa pousada massa, bem na areia da praia,  conhecemos um paipai incrível, faz a imaginação ir longe, recriar tudo o que já se passou naquele lugar, uma vista linda, tudo muito lindo, participamos da festa da Bastilha lá, é os polinésios acabaram incorporando essa festa, mas comemoram de forma bem particular com muita música e dança polinésia... teve também o eclipse, é sempre mágico né, procurei me conctar com a força do universo, sentir toda sua engrenagem, sua música... passada uma semana seguimos pra Bora Bora, apenas 10horas de velejada, super tranquilo, bonita demais a entrada, muitos motus, bangalôs para todos os lados...
Em Bora fomos direto pro Yatch Club, reencontramos várias pessoas de novo, a rota dos barcos acabam sendo mais ou menos a mesma... fomos atrás de Pasteur, o treinador da equipe feminina de va'a, facilmente encontramos sua casa, família muito gente boa, conversamos e combinamos de participar do treino, logo no primeiro dia de treino remei mais de 8km, sinistro, numa v6, maior energia, muito bonito, porque o mar de Bora é realmente incrível, sem nenhum exagero o lugar é muito lindo!!! Fiz duas massagens no Yatch Club, maravilha porque é uma forma de fazer o $$ entrar, tornar a viagem mais sustentável, além de eu me sentir muito bem em cada massagem que dou.. eu e Jeff também fizemos massagem em duas das filhas de Pasteur, estavam sentindo dores, pegaram muito pesado no treino, e foi também uma forma de retribuir a eles, jantamos em sua casa, depois Pasteur me deu um colar belíssimo, que ele mesmo fez, todo cheio de conchas, muito lindo, e Jeff ganhou um remo, ficamos muito felizes com nossos presentes..
Também ancoramos no cais bem no centro da cidade, não foi muito agradável, porque era bem movimentado e o mar balançava muito com cada barco que passava, mas paramos ali apenas pra abastecer de água o barco, conhecemos uns russos, pegamos a bike emprestada e demos a volta na ilha, delícia!!!
Depois fomos ancorar do outro lado, onde tem a praia, o melhor lugar que já ancoramos em toda a viagem, muita vibe acordar no meio de mar azul daquele jeito, quanta felicidade.. lá mergulhamos, que emoção, um mega jardim colorido no fundo do mar, quanta beleza e seres diferentes, fiquei sem ar de tanta beleza, e também porque fiquei sem ar mesmo.... foi massa, vários pôr-do-sol lindíssimos, e o vento continuava tocando sua música, desde Huahine...
No dia de meu aniversário, logo pela manhã passamos na canoa tradicional que ancorou próximo, que presente, conhecemos dois polinésios super queridos, muita conversa, várias lições, estão indo pra Xangai, acho que é a embarcação mais roots que já vi, toda de madeira e bamboo, com design tradicional, tem porco, galo e galinha, e muitas frutas e raízes.. o galo é o despertador, a galinha é pra botar ovo, garantir a proteina, e o porco é para jogarem no mar quando não souberem exatamente pra que lado esta a terra, estão velejando sem instrumentos, como faziam seus antepassados, estão indo pra Xangai, em busca de conhecer um povo lá que fala a mesma língua que eles, estão em busca de suas raízes, querem explicar a história das migrações... ganhei várias frutas e raízes, e John e Enoha garantiram que o presente não eram as frutas, a comida, o presente era divino, era o amor de Deus, o simples ato de dar, maravilha!!! Jeff deu um livro que encontramos em Taiohae sobre construção de embarcações das ilhas Austrais, Enoha ficou muito muito feliz, porque ele é das Austrais, e tem um projeto de fazer construir ele mesmo a sua canoa tradicional, sem cabos, a amarração toda de fibra de côco, e disse que quer a gente pra tripulação, mas esse projeto aí é pra lá de 2014, mesmo assim trocamos nossos contatos...
A tarde fomos de novo para o cais do centro da cidade, lá fomos num restaurante ter um jantar de comemoração de meu aniversário, no paraísooo!!! Maravilha, muito feliz!!
No dia seguinte seguimos viagem pra Rarotonga, Cook Island, ainda Polinésia, mas não mais francesa...

Polinésia Francesa, Tahiti - Moorea


Felicidade ao avistar as montanhas do Tahiti, passamos por Papeete e fomos para a Marina Taina em Punaaia, lá ancoramos, incrível a visibilidade da água, muito lindo o passe, adentrar para as barreiras de corais...

Nos primeiros dias ficamos na função de encontrar um lugar pra ficar, limpar o catamarã, dar saida da crew list, essa parte deu um certo trabalho, os policiais da imigração não foram muito educados, quiseram criar caso por nada, mais tarde ficamos sabendo que eles não curtem muito os franceses, e como fomos até lá com o capitão francês, até certo ponto é compreensível porque foram colônia francesa por muito tempo, e ainda é considerado território da França, posibilitando a entrada e permanência de franceses no país, e sim tem muitos franceses que vem viver por aqui, trabalhar, tornando o mercado de trabalho mais competitivo, na visão dos tahitianos os franceses "roubam"seus empregos, além de acharem que eles se acham os donos daqui, enfim, o que nos explicaram é que os policiais não são muito simpatizantes dos franceses e principalmente quando não se preocupam em cumprimentar na língua local, ao invés de falar Iaorana, ficam falando Bon jour pra lá e pra cá....
Conhecemos muitos franceses em Nuku Hiva e no Tahiti, todos muito gente boa, mas era surpreendente perceber que a maioria tinha a visão de colonizador, muitos realmente acreditam que a polinésia não seria nada se os franceses não estivessem lá, investindo em educação, saúde, subsidiando, aquela velha visão eurocêntrica e equivocada de desenvolvimento... A maior riqueza da polinésia é sua cultura, mesmo com missionários, imigrantes europeus e toda forma de colonizar, os polinésios não deixaram de reconhecer o valor de seus conhecimentos, suas práticas, mesmo que muito tenha se transformado, o jeito desse povo viver é muito bonito... mas sim aqui também tem seus problemas, não que tenha visto, mas muitos falam que o problema por aqui é com a bebida, que os tahitianos gostam muito, mas não vi nada demais por aqui, e provavelmente essa foi uma das estratégias usada pelo colonizador, introduzir o álcool pra esse povo, para enfraquecê-los... a história sempre se repete...
Reencontramos várias pessoas por aqui, inclusive o André, que também era tripulante do Fraternidade, foi massa!! Logo no primeiro dia conhecemos vários brasileiros que tinham acabado de chegar, estavam indo pra Teohupoo surfar, acho que todos eram profissionais, foi massa passar na rua e os escutar falar português..
Como não encontramos um novo barco logo que chegamos, ligamos pra Domi, uma amiga francesa que conhecemos em Nuku Hiva, e ficamos hospedados em sua casa, foi bem legal a temporada por lá, recarregar as energias, ter um banheiro, água quente, não ficar neurótica de estar gastando muita água, ter acesso a internet, pequenos "luxos"que vivendo a bordo fica um pouco restrito...rsrsrs      
Tahiti foi realmente muito bom, bons encontros e reencontros, fomos na Heiva, que encanto essas mulheres dançando, fiz uma aula, delícia, fomos em Teahupoo, lá assistimos o primeiro jogo do Brasil na Copa, junto com o brazooca, Jeff surfou uma onda lá, vacou outra, passamos um domingo em Pointe Venus, que vida tranquilaaa... encontramos um barco pra participar da regata "Tahiti-Moorea Sailing Rendez-vous", fomos com um casal de canadenses no "Magenta", muito massa, fortes emoções, fortes ventos, grandes ondas, mas chegamos.
Em Moorea, várias festas do encontro, várias festinhas no Infinity, mega veleiro de ferrocimento (120 pés), muito doido, 16 tripulantes, noite no Boubbles, massa demais reencontrar Alex, depois continuamos em Moorea, fomos até Haapiti Surf Lodge, conhecemos Petero, o dono, e passamos 10 dias lá, que delícia, chalezinho de frente pro lagoon, todos os tons de azul imagináveis, de frente pro pico do surf, andava de caiaque, ficava no passe fotografando a galera surfar, muito gostoso, subimos o "3 cocotier" visual lindo de Moorea, ficamos peladões lá em cima, pedalamos na chuva, fizemos uma tatoo tradicional, sem máquina, com dente de porco do mato, fiz várias massagens na mulher de Petero e em sua mãe, vários jantares com eles, conhecemos uns havaianos massa, desenhei, sonhei e sonhei... a vida estava muito boa mas tínhamos que voltar pro Tahiti, buscar um barco pra seguir viagem, afinal faltava menos de um mês pro nosso visto acabar, ainda em Moorea nosso telefone tocou era Lisa, falando de um barco que precisava de tripulante, mas o barco já estava de saida no dia seguinte, nem nos empolgamos...
De volta no Tahiti fomos até a Marina Taina e ligamos pro capitão que Lisa tinha falado, de repente ele poderia estar ainda por ali, e estava, então conhecemos Ted, um inglês de 67 anos, bem simpático, na primeira conversa não acertamos nada porque ele queria uma tripulação para dividir todos os custos do barco, não era o que queríamos, decidimos ficar por mais tempo e procurar outro barco, depois ficamos sabendo que ele acabou não saindo, Lisa resolveu pegar um avião e mais uma vez conversamos e então combinamos de fazer parte da tripulação do Honalee, dividindo apenas alimentação, os outros gastos, é responsabilidade do capitão (taxas de portos, marinas, diesel, manutenção, água etc.). Antes de embarcar no Honalee, fizemos nossa despedida do Tahiti e comemoramos o aniversário de Jeff, na casa de Gabriel, um carioca que vive no Tahiti há oito anos, muito massa, super coração, foi bem divertida a festinha, pocker e muita risada...
nos despedimos de Domi e a galera da casa e embarcamos no Honalee, maravilha, bem gostoso o veleiro, modelo suíço, scanmar, 40 pés, duas cabines e dois banheiros, apenas eu, Jeff e Ted!! Fizemos as compras e no dia seguinte voltamos pro mar. Rumo a Huahine, menos de 24h de velejada, mesmo assim, tinha um único turno de 2h-5h da manhã e passei o turno inteiro vomitando, terrível, ainda bem que estava tudo tranquilo, vento a favor, constante, vela regulada, não tive que fazer nenhuma manobra...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Chegada na Polinésia Francesa, Nuku Hiva


Após três meses bem vividos na Polinésia Francesa, tivemos de deixá-la, nosso visto expirou, lamentei, mas ao mesmo tempo foi uma forma de nos impulsionar a seguir viagem, senão certamente íamos ficando e ficando...
No dia 21 de abril de 2010 ancoramos em Nuku Hiva, arquipélago das Marquesas, depois de 22 dias direto no mar sem avistar terra, 3065 milhas navegadas no Pacífico, pisamos em terra!

“O céu está sorrindo novamente, um excesso de ar paira sobre tudo. Essa estranha e longínqua terra me pertence de novo, o estrangeiro tornou-se nativo. Debaixo da árvore que fica além do lago será hoje o meu lugar.” (Hermann Hesse)

E logo que chegamos, a decisão de desembarcar do Fraternidade foi mantida, depois de 95 dias, 7728 milhas náuticas  a bordo dessa grande barca, chegou a hora de abandoná-la, não faço muito o tipo de quem abandona o barco não, mas esse foi inevitável, já tinha aprendido as maiores lições que poderia ter ali, não, e não foram os aprendizados náuticos os mais importantes, foram os diferentes aspectos da natureza humana, a arte de conviver, a reafirmação de meus valores, o que não quero ser quando crescer e sobretudo a importância de cultivar o amor no coração, dessa forma é possível se relacionar bem com todas as facetas humanas, mais a maior lição que todos precisavam ter mesmo é conhecer o sentimento de fraternidade, aprender a ser mais fraterno, a ter compaixão com o próximo, fazer o bem sem olhar a quem. É, posso dizer que cheguei mais forte em Nuku Hiva.

Passei a primeira semana na casa de uma típica família polinésia, quanta abundância, abundância de sorrisos, cores e flores, frutas e odores, pura alegria, férias para o espírito depois de tanta (o)pressão vivida. Foi um bom momento para colocar as idéias no lugar, fazer alguns planos sempre com a possibilidade de desfazê-los, habituar os ouvidos com o francês e marquesiano, se conectar com a fluidez da vida e simplesmente vivê-la. Na seqüência tudo foi fluindo, conhecemos pessoas lindas, vários cruzeiristas e pessoas locais, ficamos hospedados num catamarã com capitão francês, velejamos pela ilha com outros barcos. Conhecemos Hakaui, lugar forte, para raros, para poucos, esse tesouro está guardado, que os guerreiros ancestrais continuem o guardando, com suas imponentes rochas... intensas vivências nessa terra.
Aprendi a fazer colar de flores, coroa e óleo, que delícia, um pouco da alquimia das mulheres marquesianas, utilizei nove plantas, sou incapaz de dizer o nome de todas as plantas, na hora só estava ocupada em vivenciar aquele momento a idéia de pegar o caderninho anotar tudo, perguntar tudo, investigar foi deixada de lado, num lindo dia de Sol fui buscar as plantas no quintal de mami Oscarina, gardênia, tiaré, jasmim, yang yang, côco, hortelã e outras fizeram parte da poção, muito legal o trabalho de ir colher as plantas, tirar o leite de côco, misturá-las com a mão, colocar no Sol, tirar do sereno, colocar no Sol, tirar do sereno, colocar de novo no Sol e depois tirar do sereno, e finalmente o paku, óleo bastante apreciado e utilizado por aqui. Aprendi também a retirar fibra de côco, fazer colar de sementes e compartilhar tudo de bom que eu tivesse pra oferecer, saber dar, saber receber e saber retribuir, nas marquesas recebi muito.
Vivi dias memoráveis, conhecemos vários paipais, sítios arqueológicos com vestígios de estruturas de casas construidas de pedras pelos antepassados desse povo, rodeados de vegetação específica, grandes árvores, densas, com folhagem verde musgos que mais pareciam as famílias que ali viveram, como se os espíritos tivessem se encantado em árvores, muita fruta pão e mamão ao redor, e tapetes de flores, tive aulas de surf, conheci pessoas lindas com histórias de vida incríveis, grandes conexões, grandes exemplos.
Os polinésios nos olham no fundo dos olhos, não é preciso saber falar francês e nem sua língua nativa, leêm nossos olhos, quando você pensa que precisa de alguma coisa, já chega alguém pra te dar o que precisa, muita vibe...

Depois de cinco semanas nas marquesas, já nativos, todos nos conheciam e sabiam que éramos brasileiros, participamos de muitos jantares e festas, me senti acolhida pelo povo de Nuku Hiva, mas chegou a hora de partir. Seguimos viagem no Margot, participamos do delivery desse catamarã até o Tahiti, mais pela experiência, o capitão tinha mais de 50 anos de vida no mar, durou uma semana, não paramos nas Tuamotus, o que nos obriga a voltar pra Polinésia para conhecer esse arquipélago... a viagem foi bem tranquila, velejar com os alísios não traz muitas surpresas.